ATA DA DÉCIMA SÉTIMA SESSÃO ORDINÁRIA DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 12.03.1991.

 


Aos doze dias do mês de março do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Sétima Sessão Ordinária da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos, constatada a existência de "quorum", o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata da Décima Sexta Sessão Ordinária, que foi aprovada. À MESA foram encaminhados: pelo Ver. Décio Schauren, 01 Requerimento (Proc. nº 679/91); pela Verª Letícia Arruda, 16 Pedidos de Providências; pelo Ver. Luiz Braz, 01 Projeto de Lei do Legislativo nº 40/91 (Proc. 662/91); pelo Ver. Nereu D'Ávila, 01 Pedido de Informações; e pelo Ver. Vicente Dutra, 01 Indicação de nº 17/91 (Proc.nº 684/91). Ainda, o Sr. Presidente apregoou o Ofício nº 109/91, do Sr. Prefeito Municipal. Do EXPEDIENTE, constou o Ofício-Circular nº 05/91, da Câmara Municipal de São José do Rio Preto-SP. A seguir, o Sr. Presidente anunciou que o período de COMUNICAÇÕES da presente Sessão seria dedicado a debates em preparação ao dia 15.03.91 - Dia Nacional de Lutas Contra o Plano Collor, a Requerimento, aprovado, do Ver. João Motta, e, registrando que o Deputado Federal Roberto Freire e o Vice-Prefeito Tarso Genro encontravam-se no Gabinete da Presidência, solicitou aos Senhores Líderes de Bancada que. conduzissem essas autoridades ao Plenário. Compuseram a Mesa: Ver. Antonio Hohlfeldt, Presidente desta Câmara Municipal; Deputado Federal Roberto Freire, convidado; Vice-Prefeito Municipal de Porto Alegre, Dr. Tarso Genro; e Vereadores Wilson Santos e Clóvis Ilgenfritz, 2º e 3º Secretários da Casa, respectivamente. A seguir, o Sr. Presidente pronunciou-se sobre o evento, enfatizando a importância da discussão do Plano Collor e manifestou o orgulho da Casa em receber para este ato o Deputado Federal Roberto Freire e o Vice-Prefeito Tarso Genro, e concedeu a palavra aos Convidados. O Deputado Federal Roberto Freire defendeu o parlamentarismo como forma de governo, examinou o Plano Collor e as respectivas iniciativas através de Medidas Provisórias na área econômica e propugnou por posicionamento das esquerdas brasileiras, tendo em vista perspectivas futuras do País. E o Vice-Prefeito Tarso Genro, saudando a Casa e o Deputado Federal Roberto Freire, examinou a conjuntura jurídico-política do Estado Brasileiro, o direcionamento das instituições públicas e o uso de Medidas Provisórias como meio de manutenção de um Estado conservador. Em continuidade, o Sr. Presidente registrou a presença, no Plenário, do Sr. José Carlos D'Ávila, Presidente da EPATUR, e concedeu a palavra às Lideranças de Bancadas Partidárias da Casa. O Ver. João Motta, em nome da Bancada do PT e na condição de Autor da proposição que originou o debate, augurou que gestos como os das presenças do Deputado Federal Roberto Freire e do Vice-Prefeito Tarso Genro estimulem este Legislativo à luta que nacionalmente está sendo preparada contra o Plano Collor. O Ver. Wilson Santos, em nome do PL, referindo a inexistência de planos de governo quando da realização das eleições para a Presidência da República, ponderou sobre a falta de credibilidade do Sr. Presidente da República e criticou a edição de diferentes medidas econômicas pelo Executivo Federal, que classificou como laboratoriais, e saudou o Ver. João Motta pela propositura do debate e os Senhores Tarso Genro e Roberto Freire pelas presenças a esse ato. O Ver. João Dib, em nome do PDS, registrando que se fazia presente ao debate embora tenha votado contrariamente a sua realização, diferentemente de outros Vereadores ausentes a este ato, questionou posturas contraditórias dos Legislativos quanto à economia e propugnou por luta em busca do bem comum. O Ver. Nereu D'Ávila, em nome do PDT, exaltou o posicionamento objetivo do Deputado Federal Roberto Freire quanto à falta de alternativas das esquerdas brasileiras, questionou a edição de planos econômicos do Governo Collor de Mello e defendeu a apresentação de propostas pelos partidos políticos de esquerda. E o Ver. Lauro Hagemann, em nome do PCB, referindo o pronunciamento do Deputado Federal Roberto Freire, nesta Sessão, registrou que a Casa cumpre o seu papel ao discutir os planos econômicos do Governo Federal e ponderou sobre a retomada de luta em favor de reformas de base. Durante a Sessão, os trabalhos estiveram suspensos durante três minutos, nos termos do artigo 84, II do Regimento Interno, e o Sr. Presidente respondeu Questão de Ordem do Ver. José Valdir, acerca da concessão de apartes. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às quinze horas e dezenove minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt e Airto Ferronato e secretariados pelos Vereadores Wilson Santos e Clóvis Ilgenfritz. Do que eu, Wilson Santos, 2º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 


O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Informamos aos Vereadores presentes que o Período de Comunicações será dedicado a debates em preparação ao dia 15 de março de 1991 e informamos também que encontram-se presentes, no gabinete da Presidência, o Dr. Tarso Genro, Vice-Prefeito de Porto Alegre e o Dep. Federal Roberto Freire. Convidamos os Srs. Líderes para que se dirijam à sala da Presidência, a fim de conduzir os visitantes ao Plenário.

Suspendemos os trabalhos da presente Sessão por 5 minutos.

 

(Suspendem-se os trabalhos às 14h22min.)

 

O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt – às 14h28min): Estão reabertos os trabalhos. Registramos a presença do Sr. Secretário da Administração, Dr. Jorge Buchabqui, além dos nossos convidados, Deputado Federal Roberto Freire e do nosso Vice-Prefeito Tarso Genro, que convido a fazer parte da Mesa. Houve um Requerimento, de autoria do Ver. João Motta, no sentido de que o período de Comunicações fosse dedicado ao debate em preparação ao dia 15 de março de 1991, Processo nº 0692, aprovado por esta Casa.

A intenção da Câmara, neste momento, é ser um espaço de discussão. Gostaria de lembrar, aqui, o encaminhamento que, na ocasião, fazia o Líder do PDT, Ver. Nereu D'Ávila, que é fundamental a discussão, independentemente das posições que cada um de nós ou os nossos Partidos tenhamos.

Deputado Freire, a Casa abriga nove representações partidárias, evidentemente com posições as mais diversas possíveis. Parece-nos importante, de qualquer forma, essa discussão numa Casa que é eminentemente política e onde se sente, no dia-a-dia, no quotidiano, os reflexos da política federal, porque, se existem decisões, a nível de Brasília, a nível do Planalto, a nível do Congresso, essas decisões se concretizam no quotidiano do cidadão, que é a cidade, sobretudo nas capitais, como é o caso de Porto Alegre. É nesse sentido, portanto, que o encaminhamento, a proposta apresentada tem a sua importância neste momento. Quero dizer do orgulho, da nossa felicidade em recebê-lo nesta Casa, junto com nosso Vice-Prefeito, Sr. Tarso Genro e, de imediato, queremos passar a palavra a V. Exª, convidando-o, inclusive, a usar da tribuna, na condição de Deputado Federal e de representante maior do Partido Comunista Brasileiro.

 

O SR. ROBERTO FREIRE: Exmo Sr. Presidente; Exmo Sr. Vice-Prefeito; Exmo Sr. 2º Secretário; Srs. e Srª Vereadora, meus senhores, minhas senhoras. Inicialmente, gostaria de dizer que me sinto honrado em comparecer ao Plenário de uma Casa parlamentar. Digo isso como parlamentar que sou e muito mais, como parlamentarista que defende esse tipo de governo. Acho que é uma prática que deve ser saudada, e diria até incentivada para que outras câmaras pudessem fazer essa presença constante de parlamentares de outros níveis e de membros do Executivo, para que se comece a criar, nesta articulação, mecanismos que são próprios dos regimes parlamentares. Eu tenho uma idéia de que será uma das grandes modificações que teremos que realizar neste País, se pretendermos criar um País moderno, um País que tenha capacidade de se desenvolver, onde a política não seja algo tratado de forma pejorativa e com a omissão da maioria da cidadania. Vai ser difícil. Esta Casa é testemunha, porque vivencia e todos nós parlamentares vivenciamos o descrédito que a atividade política tem e, particularmente, a atividade política no Parlamento.

Nós somos políticos. E se tem a noção equivocada de que no Executivo não se faz a política. Até se admite; e isto criou a mentalidade de que os militares no poder não eram políticos. Ali não se exercitava a política, que a política é algo restrito à atividade parlamentar. Este preconceito pode ser vencido e só será vencido quando vincularmos concretamente a atividade executiva a ela vinculada e oriunda da atividade parlamentar, que o Parlamentarismo enseja e promove. Fiz esse intróito para dizer que a minha presença não é uma presença meramente formal, é de quem quer realmente, junto com todos os parlamentares de todos os níveis, criar a consciência de que aqui está a maior representação e a melhor representação do que pensa e do que pretende a cidadania. Aqui há transparência, aqui há o contraditório, aqui nada do que se faz deixa de ser do conhecimento da opinião pública. Aqui a cidadania tem a sua expressão máxima, porque aqui não se encontra apenas aquele que representa o Executivo, aqui está também a oposição, todas as oposições, aqui está o pluralismo da sociedade. Discutir a conjuntura e concretamente o "Dia Nacional de luta contra o Governo Collor", seria interessante nós, talvez, pegarmos uma inversão clara de um processo político brasileiro. Eu fui agora entrevistado por uma emissora de rádio de Porto Alegre e a pergunta foi sobre um Projeto Nacional que será apresentado pelo Governo Collor. Esse Brasil realmente tem pouca prática político-democrática e dá lugar a disfunções como esta. Esse projeto nacional era algo que deveria ser do conhecimento da opinião pública em plena campanha, e mais do que isso, teria que ali ser discutido e aprovado. Os programas e as metas são meios e formas operacionais para que esse projeto seja implementado. No Brasil não. Se teve programas e durante um ano se experimentam vários tipos de programas, programas ortodoxos de enfrentamento de crises econômicas, heterodoxos num segundo plano, e só depois de um ano é que se vem discutir um projeto nacional. Isso me parece algo que demonstra primeiro a incapacidade desse Governo, e eu diria até a sua irresponsabilidade ao assumir o Governo sem ter nitidamente o projeto nacional. Nem Projeto da classe dominante ele era, foi escolhido, talvez como o mal menor para essa classe dominante do que seria a alternativa do candidato das oposições, no caso concreto Luiz Inácio Lula da Silva. Isso nós estamos sentindo concretamente na base de sustentação do governo, nas contradições que existem dentro do governo, e mais do que isso, em toda essa falta de articulação política entre a base do governo e seus objetivos com seus projetos. Há uma distorção, há uma inversão. E o medo que se tem e acredito que isso começa a permear toda a atividade política de que com menos de um ano nós temos um governo que sofre um descrédito, que sofre com a falta de sustentação política, algo que só depois dos 4 anos de governo veio a sofrer o Sr. José Sarney.

Nós estamos vivendo num País em que a falta de credibilidade é tão evidente, que um plano, ou parte de um plano, que talvez pudesse interessar a todos os assalariados brasileiros, pela reincidência, pela falência da atuação desses projetos, nós tivemos muito rapidamente o boicote, descalabro, a completa ausência da Administração no caso concreto do congelamento. Não há desabastecimento, porque a economia já desabasteceu. É nitidamente porque os agentes econômicos boicotam o congelamento. E aqueles que poderiam, independentemente de governo, ser os principais interessados, que é a grande maioria dos assalariados brasileiros, esses não tiveram nenhuma parcela positiva na adoção desse congelamento, pela falta de confiança, de credibilidade no governo e na própria instituição política. Isso é grave, porque isso é demonstrativo de falta de governabilidade. E em sistemas presidencialistas em que nós precisamos garantir a alternância com os prazos determinados, nós vamos ter ainda 4 anos desse governo. E não nos interessa a nós, democratas desse País, que tanto lutamos para construir uma institucionalidade democrática, quando lutamos contra a ditadura, não nos interessa nenhuma crise de governabilidade, nenhuma superação por outros caminhos senão o caminho da participação democrática, da alternância do poder nos processos eleitorais. Isso é o que nos preocupa. E nos preocupa tanto porque o governo não tem essa preocupação, talvez no alto do seu autoritarismo, da sua característica imperial de tratar as questões, transformou algo que seria uma discussão profícua entre o Executivo e o Legislativo, para regulamentar uma Instituição constitucional, como no caso a Medida Provisória, transformou uma disputa numa queda-de-braço entre governo e oposição. Não teve a capacidade de entender que ele passa 4 anos e as medidas provisórias serão instituições que serão permanentes no relacionamento entre o Executivo e Legislativo, seja qual for o Executivo. Essa incompetência do governo de entender que ele é passageiro e as instituições democráticas são permanentes, ou pelo menos pretendemos que sejam permanentes, inviabilizou toda uma discussão séria de como termos uma regulamentação de um instrumento que foi criado pela nova Constituição para regular a agilidade do Executivo, necessária para determinados momentos da sua intervenção na sociedade, intervenção no sistema financeiro, intervenção até para responder a momentos que têm que ter agilidade, relevância, urgência, rapidez e até surpresa, ou a necessidade da recuperação do Poder Legislativo. Esta discussão seria profícua, se tivéssemos um Governo democrático, se tivéssemos um Governo que entendesse da necessidade de se construírem instituições que ficassem acima dos homens, até para que os homens pudessem ficar acima delas na sua liberdade e na sua expressão de cidadania. Tudo isto estamos enfrentando com este Governo. Um momento difícil da transição do primeiro governo, depois de 30 anos, eleito democraticamente, que teve legitimidade, mas que não teve a competência, talvez até porque não tenha um compromisso democrático de, junto com o Legislativo, restaurar credibilidade da atividade política. Restaurar instituições e lutar para a consolidação da democracia. Para que nós possamos, aqui, da Câmara Municipal de Porto Alegre, ou de qualquer Parlamento, ou de qualquer tribuna, ou de qualquer lugar deste País, dizer o que pensamos e agir de acordo com o que pensamos dentro de um processo de respeito à liberdade pública. Isso é algo que me preocupa muito mais do que sabermos se vai dar certo ou não o Plano Collor. Se teremos a capacidade de ter um País estável do ponto de vista econômico para que possamos pensar num projeto nacional, até porque projeto nacional num país que perdeu uma década, num país que se transforma numa indústria, que já foi num tempo dinâmica, obsoleta; num país que perde terreno, nitidamente, com esta virada do século; num país que corre risco de continuar subalterno e de forma ainda pior, num país que corre o risco de não ser contemporâneo da revolução científico-tecnológica, importante é saber que nós não vamos resolver esta questão se não tivermos um amplo processo de discussão democrática. Não vai ser nenhum Governo autoritário, até porque o Governo autoritário que tivemos foi responsável por esta perda de 10 anos. Modernizou de forma conservadora, não teve a capacidade, porque, democraticamente, pouco se discutiu, de preparar o Brasil para esta virada do século. Enfrentou a questão da revolução científico-tecnológica da forma mais atrasada possível, sustentando o Estado cartorial, sustentando interesses privilegiados sem que a população, sem que a cidadania tivesse a capacidade de discutir questões que começavam no mundo a demonstrar que as mudanças tinham que ser profundas. Acho que, inclusive, a esquerda não está preparada ainda para isso. Poderia estar, de forma até equivocada, e a crise da Europa do Leste, toda a crise do Socialismo, a crise do pensamento e da cultura de esquerda no mundo nos coloca também para que essa discussão seja feita no nosso seio. Esse projeto nacional que vai ser apresentado de forma invertida, com distinção, atrasada, pode também nos ajudar a que tenhamos a capacidade de apresentar para o Brasil o nosso projeto, a nossa alternativa, termos num dia de luta, e nos dias de lutas que se avizinham a possibilidade de dizer que este plano não é o nosso, que o projeto não seria aquele que a maioria do povo brasileiro poderia esperar para melhores dias seus e das futuras gerações. É isso que está em discussão: esse dia de luta nos traz também à reflexão de que a esquerda tem que buscar alternativa política para o país, para que ele seja contemporâneo, para que ele não seja dependente, para que ele supere as pervertidas distribuições de renda, para que neste País se tenha a perspectiva, inclusive, de sermos felizes. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar a presença do Presidente da Epatur, José Carlos D'Ávila.

Passamos a palavra ao Vice-Prefeito Tarso Genro.

 

O SR. TARSO GENRO: Exmo Sr. Presidente da Câmara de Vereadores; companheiro Deputado Federal Roberto Freire; Exmo Sr. 2º Secretário, Vereador Wilson Santos; Srs. Vereadores, minhas senhoras e meus senhores. É com muita honra que eu participo deste debate por dois motivos: o primeiro motivo, porque retorno a esta Casa a qual visito seguidamente e me sinto sempre honrado em ser aqui bem recebido; em segundo lugar, porque reencontro, depois do final do meu mandato enquanto Deputado Federal, novamente no plenário o Deputado Roberto Freire, sem a menor sombra de dúvida um dos mais brilhantes Deputados de todas as Legislaturas do Parlamento brasileiro. Não é de graça que nos intervalos das Sessões, nos corredores do plenário, nas Bancadas do plenário sempre eu procurava-o para me apropriar da sua experiência, da sua inteligência, da sua clareza de idéias, da sua cultura.

Eu creio que o debate aprovado por esta Casa é um debate da mais extraordinária importância. Eu gostaria de propor uma reflexão que se refere principalmente à relação forma e conteúdo na política e que diz respeito ao arcabouço do Estado brasileiro, de uma parte e de outra o conteúdo através do qual esse arcabouço se manifesta no processo político. Refiro-me ao Estado brasileiro, que é um Estado ao contrário do que diz a má sociologia e a péssima análise política, é um Estado privatizado, é um Estado cuja estrutura pública e cujas instituições juridicamente públicas na verdade estão e sempre estiveram a serviço de interesses bem específicos. Quando se fala em cartorialismo, quando se fala nas funções públicas que qualquer estado moderno deve cumprir, e que o nosso Estado não cumpre, quando se fala na cristalização burocrática, no aparato do Estado, de grupos e quistos burocráticos que se reproduzem a si mesmos e que fazem com que a máquina pública e inclusive as empresas públicas tornem-se instrumentos a serviço da cumulação da riqueza privada e da corrupção, está se falando, na verdade, do Estado Brasileiro. E a mediação política, a mediação institucional da manutenção desse Estado e o afastamento da sociedade civil do próprio Parlamento, das decisões a respeito do estilo dessa sucata, a manutenção desses privilégios atualmente se faz através das Medidas Provisórias. A Medida Provisória, em qualquer estrutura constitucional medianamente lúcida, quando é editada ou já está consensualmente aceita pelas Lideranças partidárias, como na Itália, ou não pode causar nenhum efeito definitivo sem a permissão do Parlamento, como na medida similar na França, aqui no Brasil se torna, na verdade, um instrumento de manutenção deste estado privatista, deste Estado privatizado, porque cartorial, porque conservador e porque reprodutivo dos interesses de uma minoria. Quando se fala, portanto, em Plano Collor se fala em MPs, se fala na mediação que os partidos conservadores fizeram, transformando estas MPs com a legalidade, com a substantividade que a norma constitucional exige para que elas permaneçam na sua eficácia. Se fala, portanto, num processo que, concretamente, independentemente das posições políticas, independentemente das posições partidárias, desde que se parta de um princípio de lucidez, que nos unifica. A luta contra a recessão, a luta contra a queda do poder aquisitivo das amplas massas trabalhadoras, das camadas médias da sociedade, da liquidação da média e da pequena indústria e também das grandes indústrias, quando estas não estão integradas no movimento que interessa ao grande capital financeiro internacional. E se trata, portanto, que nós retomemos o vigor político da sociedade civil, e transformemos um dia como este no início de um grande movimento contra a recessão, o desemprego e a retomada do crescimento econômico. A iniciativa desta Casa, ao propor este debate, e ao abrir este debate, com a lucidez e a pertinência do Dep. Roberto Freire, é um fato político importante para a nossa Cidade e o nosso Estado. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Informamos que os nossos visitantes terão que se retirar, dentro de 20 minutos, por terem outros compromissos, mas no momento oportuno, interromperemos a Sessão para as despedidas.

Com a palavra o Ver. João Motta, que falará em nome da Bancada do PT.

 

O SR. JOÃO MOTTA: Prezado companheiro Roberto Freire, Deputado Federal do PCB; companheiro Tarso, Vice-Prefeito; Ver. Airto Ferronato, dirigindo a Sessão; Ver. Wilson Santos, do PL, membro da Mesa, demais companheiros Vereadores. Desde o início, pelo menos para a Bancada do PT, e , tenho certeza, para a Bancada do PCB, e acho que também para os demais partidos de oposição, esperamos nós que esse tipo de preocupação seja do conjunto das bancadas. Houve um vazio nesta Câmara com relação a esse tipo de preocupação, ou seja, de fazer com essa instituição política, uma instituição democrática, que a rigor deveria estar aberta a todos os temas que dizem respeito ao povo brasileiro, nunca trabalhou e transformou, no seu cotidiano, a discussão sobre os grandes temas nacionais como sendo exatamente parte da nossa prática política e parte das nossas preocupações políticas. Portanto, ao aproveitarmos esse dia nacional de lutas, que está sendo organizado nacionalmente por entidades sindicais, por partidos políticos, por entidades civis, pareceu-nos oportuno fazer com que esse gesto, que hoje está simbolizado pela presença do companheiro Roberto Freire e pela presença do companheiro Tarso Genro, passe a ser - e que se reproduza, a partir de agora, fazendo com que a CMPA seja, de fato, também um palco de debates dos grandes temas nacionais, que estão na ordem do dia. No dia será, provavelmente, divulgado um novo projeto político do Governo Collor para dirigir a economia, para dirigir a sociedade, tentando apresentar perspectivas que deveriam nortear a sociedade. Não estamos de acordo com esse projeto, tanto a nível do método como está sendo divulgado, bem como a partir do seu conteúdo, na medida em que o seu conteúdo básico é contra os interesses dos trabalhadores brasileiros.

Portanto, nosso desafio, Ver. João Dib, Líder da Bancada do PDS, e demais Vereadores, é exatamente isto: que esta Câmara, a partir de agora, seja também um palco de grandes debates, onde o conjunto dos partidos, aproveitando, inclusive, quando alguma figura de projeção nacional, como é o caso do companheiro Roberto Freire, como é o caso do companheiro Tarso Genro, estejam na Cidade, aproveitem e passem na Câmara, porque nós queremos fazer esse debate, porque é um dever e obrigação política dos Vereadores, também dos Vereadores estarem atentos a essa definição política que começa a se tomar em relação aos números mais gerais da sociedade brasileira e do próprio País. Portanto, o objeto desta iniciativa é fazer com que a Câmara também entre em sintonia com a grave crise que a sociedade, que o País, que o povo brasileiro, enfim, está angustiadamente vivendo. Evidentemente também queremos apresentar uma alternativa para isso. O dia 15 vai ser a afirmação desse ponto de vista. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A palavra com o Ver. Wilson Santos do PL.

 

O SR. WILSON SANTOS: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, saúdo, inicialmente, a Mesa, que já foi referida anteriormente, com todo respeito aos Vereadores e aos demais presentes. Eu acredito ser extremamente importante este fórum de debates. Eu fiquei preocupado na campanha à Presidência da República com a falta de projeto, com a falta de programa de governo do atual Presidente Fernando Collor de Mello. Desta tribuna eu havia protestado, porque pedi programa de governo, até para analisar, e o que me foi mandado foi retórica, em determinado momento naquele dito programa de governo falava de inflação e só dizia: é um compromisso da minha geração e combaterei ferrenhamente. Não dizia mais nada. Quanto à segurança pública dizia: o banditismo extravasou as raias da anormalidade e não dizia qual o caminho. A mim também me preocupou a falta de credibilidade, porque ela mata a esperança do povo e até a alegria popular e a nação é mais triste e menos produtiva. O episódio da acusação do Líder Petista, que concorria nos últimos momentos da eleição, de que ele mexeria na poupança e que Collor de Mello não mexeria, a prática demonstrou que a credibilidade governamental foi enterrada. O fato do exemplo do Presidente no momento em que se precisa combater a mortandade no trânsito, em que pega uma moto Kawasaki Ninja naquele momento de importação proibida e, conseqüentemente, símbolo de contrabando e imprime velocidade de 160 km/hora também é preocupante e deixa muito a desejar na credibilidade do Presidente. E, por último, tem-me preocupado é transformar a população em cobaia num laboratório de pesquisa, porque os planos que se sucedem – e muito bem falou o Dep. Roberto Freire - eles não têm o consentimento popular, eles não têm nem a notícia popular, eles vêm como se realmente o povo estivesse num laboratório e fosse apenas uma cobaia. O enxugamento da liquidez apregoado no Plano Zélia me preocupou, porque basta pegar algum escritor e eu citaria o exemplo de Guy Sorman diz que o problema brasileiro é como a embriaguez, como se diria o alcoolismo monetário. Precisa-se enxugar a liquidez. Ora, passou-se a enxugar a liquidez confiscando a poupança, mas como o monopólio da moeda é estatal, se roda a moeda para pagar as despesas excessivas do governo. Então, realmente, não acredito em congelamento, e tem que se estabelecer fórum de debate para que possamos nos insurgir contra o que propriamente tanto o Roberto Freire como o Tarso Genro falou: a formação dos cartéis da ação cartorial e fundamentalmente do privilégio. Nós temos que combatê-la a nível estadual, nacional e até municipal. Aqui faço um chamamento à atividade dos transportes coletivos em Porto Alegre que, no meu entendimento, já que é um fórum de debate, ele tem privilegiado um cartel, e esse privilégio é um privilégio, no meu entendimento, respeitando todas as idéias, as antíteses, é cartorial, é privilegiado e peço uma atenção especial. Saúdo a iniciativa do Ver. João Motta e saúdo o engrandecimento que deu a este debate a presença do Deputado Freire  e do nosso Vice-Prefeito Tarso Genro e esta Casa prepara então este debate, que visa analisar e julgar o Plano Collor. Eu estarei presente colaborando com a nossa presença e com nossa sustentação de tese, para que aqui se pratique a dialética e, conseqüentemente, a democracia. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. João Dib pelo PDS.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Deputado Roberto Freire, que honra esta Casa com a sua presença, Exmo Sr. Dr. Tarso Genro, Vice-Prefeito desta Cidade, amigo pessoal e amigo desta Casa, Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Sou um dos que votou contrariamente à realização desta Sessão, mas sou um dos que está presente. Vejo, com tristeza, que a maioria não está aqui. Sou um homem contra a luta indiscriminada, mas sempre presente na luta pela realização pelo bem comum. Não posso calar a minha voz, quando ouço um Deputado dizer que pouco se lhe dá se o Plano Collor dê certo ou errado. O que ele quer é a discussão democrática, mas democracia não existe com economia desestabilizada. Nós temos este País mal governado, sem dúvida nenhuma. Da mesma forma que eu critico, eu aplaudo. Tudo que eu entender certo na minha forma de político antiquado, se for para aplaudir, vou aplaudir; se for para criticar, vou criticar. Nós temos um excesso de medidas provisórias, sem dúvida nenhuma, mas será que nós teremos um excesso de Deputados no Plenário da Câmara Federal? Ou será que a Câmara negociou com o ex-Presidente Sarney a atual Constituição, onde Deputados receberam rádios, televisões, jornais e outras mordomias e facilidades, onde os Deputados estão preocupados, sim, em aumentar o seu número. Nós temos quase 500 Deputados. Os Estados Unidos, um País muito maior que o nosso, maior em população, muito maior, incomparavelmente maior economicamente, tem 400 Deputados. Nós queremos mais, quinhentos é pouco. Queremos mais na Câmara Federal e na Câmara Municipal também, porque eu estou pedindo que se reduza o número de funcionários e não encontro o aplauso de ninguém. Então fico pensando que o Ruy Barbosa estava certo quando dizia que: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, de tanto ver crescer a injustiça, o homem ri-se da honra e tem vergonha de ser honesto". Eu ainda não ri-me da honra, eu ainda não tenho vergonha de ser honesto e continuo disposto a lutar pela realização do bem comum. Mas não lutar contra aquilo que nem bem conheço. Chega de luta, porque foi o Collor que fez, por meu desejo ele não seria Presidente desta República, mas é o meu Presidente, como Olívio Dutra é o meu Prefeito. E dessa Tribuna eu venho e critico Olívio Dutra, mas também venho e aplaudo, também defendo as suas iniciativas quando entendo que elas são feitas para a realização do bem comum. Então em vez de nós realizarmos uma sessão para preparar a luta contra, nós tínhamos que preparar uma sessão, e todos os dias, com todos os Vereadores presentes, para dizermos tudo o que nós podemos fazer pela nossa pátria. Mas parece que nós estamos preocupados em criar mais Vereadores, prorrogar mandatos, criar mais cargos na Câmara Municipal, na Assembléia Legislativa e na Câmara Federal, enquanto o povo iludido e sacrificado continua votando e reagindo até agora contra o voto, porque os seus representantes no momento em que assumem as suas tribunas esquecem de representá-lo, esquecem que têm que tomar os seus esforços pela realização do bem comum da pátria, tem que auxiliar o Presidente a governar, mas eles negociam. Agora mesmo, na sexta-feira, a Câmara Federal tinha "quorum", aí porque o Presidente entendeu que precisava fazer determinados acertos já não tinha mais "quorum". Os interesses da Pátria estavam relegados, nós tínhamos que voltar para as nossas bases, os aviões não esperavam, esqueceram que foram eleitos para solucionar problemas e não para criá-los, então a minha voz é de luta sim, mas luta pela realização do bem comum. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. JOSÉ VALDIR (Questão de Ordem): Só queria consultar a Mesa, que oportunamente me respondesse se nesse tipo de Sessão tem aparte.

 

O SR. PRESIDENTE: Em Comunicação de Liderança não há apartes. Com a palavra o Ver. Nereu D'Ávila, que fala em nome do PDT.

 

O SR. NEREU D'ÁVILA: Sr. Presidente; Srs. Vereadores; Exmo Sr. Dep. Federal Roberto Freire, que nos honra com a sua presença; Exmo Sr. Vice-Prefeito de Porto Alegre, Dr. Tarso Genro, que também nos honra com a sua presença.

Em primeiro lugar, eu quero saudar a coragem política do Dep. Roberto Freire em enfrentar as questões que nos atingem de forma objetiva e de frente. Hoje pela manhã, impressionei-me com suas declarações publicadas no Jornal Zero Hora, página 10: "A esquerda está sem alternativa. Mudanças devem incluir o pluralismo, tanto na esquerda como na sociedade. Os modelos que tínhamos se esgotaram e foram derrotados." Eu creio que aí está, com a autoridade política e moral que tem o Dep. Roberto Freire, lançada a base de uma discussão, cujo discurso, aqui da tribuna, foi a continuação desse pensamento central. Leonel Brizola, quando chegou ao País, em 7 de setembro de 1979, depois de 15 anos de exílio, entre outras declarações de genialidade política, também declarou: "Nós temos que ter a unidade na diversidade." E é isso que as esquerdas têm que aprender, sem sectarismo, sem ortodoxia política de pretensão de dono da verdade, mas dentro do arco dos partidos que compõem a esquerda brasileira. E talvez por isso, talvez por não termos essa visão, que o Deputado hoje ressalva, que as mudanças devem incluir o pluralismo, é que talvez hoje estivéssemos dispensados de estabelecer um dia nacional de lutas contra os planos Collor I , II e os demais que surgirem, porque se tivesse havido uma unidade, talvez o Presidente fosse um Presidente com a nossa feição, a feição da esquerda democrática brasileira. De qualquer modo, penso que a raiz do problema está na falta de consciência política do povo brasileiro. Nós, do Sul e do Sudeste, que pensávamos que no Recife, onde o Deputado Roberto Freire, Miguel Arraes e tantos outros luminares, brilhantes homens de esquerda, imantassem e empolgassem o Norte e o Nordeste para as nossas teses, vimos que, no entanto, quem garantiu a presença do modelo concentrador de renda de um modernismo à direita, representado pelo atual Presidente, foram exatamente o Norte e o Nordeste. A consciência política do Sul e do Sudeste não permitiu. De qualquer modo, valeu no debate da campanha presidencial a esplendorosa, a vigorosa dialética do Deputado Roberto Freire nos debates de televisão, ao lado da linguagem forte, com a autoridade moral de quem esteve 15 anos fora deste País, em nome da democracia sufocada de Leonel Brizola. Então, hoje, o que se vê é a entrega do País ao capital internacional, as facilidades para a importação foram absolutamente derrubadas. Esse discurso retórico, de mão fechada, do atual Presidente esgotou a Nação. Inicialmente os percentuais de apoio eram chegados a mais de 80%, hoje estão abaixo dos 40%. E como muito bem disse o Deputado há poucos instantes, esse plano de unificação, de planificação, que será lançado dia 14, deveria ter sido lançado na campanha, veio atrasado, como novidade nenhuma trouxe o Plano Collor I e o Plano Collor 2. Concluo, saudando a autocrítica do Deputado em relação àquilo que a nós todos, homens da esquerda democrática deste País, atinge. Encerro, Sr. Presidente, concordando com as palavras de S. Exª, no sentido de que, além de discordar temos também a obrigação de apresentar um plano alternativo, que a população brasileira está esperando de nós.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Próximo Vereador inscrito: Ver. Lauro Hagemann, que fala em nome da sua Bancada, o PCB, e em nome da Bancada do PMDB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Ver. Airto Ferronato, presidindo esta Sessão; prezado companheiro Roberto Freire do Partido Comunista Brasileiro; prezado companheiro Tarso Genro, Vice-Prefeito; Companheiro Clovis Ilgenfritz, Secretário da Mesa; senhoras e senhores.

A Câmara Municipal de Porto Alegre cumpre hoje o seu papel. Ao aprovar esta Sessão preparatória, o Dia Nacional de Lutas, esta Casa se insere num processo de discussão política que deve se alastrar por todo o País. E quando se fala isto, se deve atentar para as palavras do companheiro Freire, quando acentuou bem, que não é uma luta do País contra o Presidente Collor ou do Presidente Collor contra o resto do País. "É uma luta institucional de um Presidente da República contra outro Poder, o Poder Legislativo. Mas isto não é de agora, esta luta decorre do antagonismo de classe que preside as relações institucionais neste País, desde que Cabral pisou nesta terra. Collor não é nada mais nada menos de que um representante da classe dirigente. E se alguém tiver alguma ilusão de que ele poderia fazer alguma coisa em benefício das camadas mais pobres da população, está se convencendo hoje de que isto era um equívoco rotundo.

O que cabe a nós, e é uma tarefa árdua, e a esquerda neste sentido tem que admitir a sua culpabilidade, é que nós não temos um trabalho permanente de esclarecimento da população, da sociedade deste País, a respeito dessas questões políticas primárias.

Há um contínuo desprestígio do processo educacional. A Reforma Agrária, não se fala mais. A Reforma Bancária só atinge os grandes conglomerados multinacionais. Então, nós estamos na triste contingência ou, quiçá, feliz contingência de termos que nos voltar às famosas Reformas de Base que produziram o malfadado movimento de 1964.

Nós vamos ter que reviver as reformas de base. Parece incrível que no ocaso do Segundo Milênio, já penetrando no Terceiro Milênio, nós nos vejamos forçados a recuar mais ainda no tempo para voltarmos a um assunto que já devíamos ter superado.

E, hoje, neste País, não se faz nada mais, nada menos, do que submeter à força econômica uma imensa maioria da população que antes era submetida pela força das armas. Hoje, um golpe militar de estilo clássico está quase descartado, embora se acene ainda longinquamente com essa possibilidade. Hoje, o que se acena é com a volta dos economistas que produziram esses frutos que nós estamos colhendo: a volta dos Delfins. Esta é a chantagem que hoje se apresenta à Nação Brasileira.

Ou todos cooperam ou nós voltamos àquelas receitas antigas que produziram este resultado. Não podemos nos esquecer que hoje estamos colhendo frutos que vieram do período ditatorial. E são hoje os mesmos que, por força das circunstâncias, calculando mal, quem sabe, estão afastados do "botim", por isto gritam.

A classe dirigente brasileira é muito atrasada, muito preconceituosa e sumamente interesseira, só quer saber do seu lucro. Não interessa o que possa acontecer com o restante da sociedade. Por isto eu me felicito e acho que a Cidade, a sociedade porto-alegrense, a Câmara Municipal devem se perfilar ao lado desta idéia de uma luta contínua, mas não uma luta sem princípios; uma luta que conduza a um resultado edificante para nós, porto-alegrenses, que somos, afinal de contas, uma parte deste País.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Em nome da Mesa da Câmara Municipal de Porto Alegre, em nome dos Srs. Vereadores, nós registramos e agradecemos as presenças do Sr. Vice-Prefeito, Tarso Genro, de Porto Alegre, e, especialmente, o Deputado Federal, Dr. Roberto Freire.

 

(Levanta-se a Sessão às 15h19min.)

 

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